Demorei 4 anos para ter uma conversa difícil. Eu só fui ter essa conversa depois de tanto tempo porque me vi em uma situação que não tinha como fugir ou postergar. Mas, como o tempo é rei, acreditei que fôssemos falar, ainda em um campo escorregadio e medindo cada palavra, com um distanciamento saudável do alto da maturidade que os últimos anos nos trouxeram.
Foi surpreendente e difícil. Descobrimos um mal-entendido entre nós gerado e estimulado meticulosamente por outras pessoas e mantido, claro, por nós. E ainda assim, neste ambiente complicado, cheio de minas, acabamos nos aproximando e conseguindo construir uma relação bacana e respeitosa, mas que nunca foi muito solta. Sabe aquela sensação de que no fundo tem algo não resolvido que não te faz confiar plenamente? É isso. Mas aí, quatro anos depois veio a conversa. A conversa corajosa. Quatro anos depois. E descobrimos que bastava apenas uma conversa nossa nesse meio tempo para resolver todas as questões antigas. Que se qualquer uma das duas partes tivesse enfrentado o medo de ouvir em qualquer um dos 1.460 dias que se passaram estaríamos bem, vivendo a relação que temos hoje: honesta, direta e sem medo de interpretações erradas.
Conhecendo a palavra
Conheci Elisama Santos em algum podcast que ouvi nos últimos anos. Fiquei encantada, na época, com a forma sincera e genuína com que ela fala sobre comunicação não violenta envolvendo a criação de filhos. Com a compaixão com que ela consegue ter consigo mesma e com seus sentimentos e, principalmente, com a pessoa que ela já foi: mais dura, mais cheia de raiva, mais impaciente. Aprendi e ainda aprendo demais quando a ouço ou a leio. É o tipo de conteúdo que brinco com amigas próximas que precisa ser martelado semanalmente, em uma espécie de culto, para que a gente se lembre sempre do que a gente acredita e não do que o corpo e a memória da gente insistem em repetir. “Você já ouviu a palavra hoje?” Pois é, a palavra para mim é de Elisama.
No Conversas corajosas, a autora disseca os detalhes que envolvem estabelecimento de limites e papos com temas difíceis entre adultos. Aprendi que mais difícil do que se fazer entender e falar com calma o que se quer dizer, é saber ouvir de forma genuína. É um processo que envolve muito autoconhecimento e vulnerabilidade, porque ouvir de verdade é tirar a roupa que a gente está acostumado a usar para vestir a do outro. E é muito difícil que esse conjunto criado, medido e pensado por outra pessoa caiba exatamente na gente. É desconfortável, coça e na grande maioria das vezes a gente nem consegue entender o porquê de se vestir de uma forma diferente da nossa.
O desconforto que move
E a mágica resultante da coragem surge exatamente deste desconforto. Uma ponte vai sendo criada, aos poucos, a partir do debate franco entre as pessoas. E não, nunca é fácil: exige tempo, paciência e troca. Nunca fomos ensinados que conversas exigem esforço e dedicação. É trabalho contínuo de desconstrução, escuta e autoconhecimento. Afinal, por que aquela atitude específica me irrita tanto? Em que ferida ela toca exatamente? Por que eu fujo o quanto posso deste papo?
A boa notícia é que quando construída em conjunto com vontade e peito aberto, levando em consideração as diferentes visões, essa ponte é segura e a névoa se dissipa. E que beleza é uma relação cristalina sem meandros e esconderijos, em que qualquer questão que surja é colocada na mesa sem medo. Aqui eu demorei quatro anos para encarar a reconstrução de uma relação minha de tema difícil. Eu demorei 4 anos para ter uma conversa difícil. E você? Já pensou em ter uma conversa corajosa antes?
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(Conversas corajosas, de Elisama Santos é um livro da Editora Paz & Terra.)
Como mãe esse tipo de assunto sempre me chama a atenção. Tem conversas que são muito difíceis mesmo, mas fundamentais que sejam feitas. Adorei a dica do livro. Anotado!