Tenho me debruçado sobre diversas biografias de personalidades importantes e a cada uma delas fico instigada a me perguntar “O que há em comum entre essas histórias de vida? O que fez essa individualidade escolher conduzir sua vida de determinada maneira? Quais sementes ela plantou para colher aqueles resultados? De onde vem a força desse indivíduo para construir esse legado e deixar essa mensagem para a humanidade? “.
O ambientalista indiano Satish Kumar é uma dessas personalidades instigantes e inspiradoras. O trabalho e ativismo de Satish Kumar estão ligados à busca por promover uma visão de mundo não violenta e ecológica, baseada no entendimento de que somos a Natureza e não estamos separados dela. E a biografia de Satish nos mostra como ele construiu sua história, a partir dos convites que a vida lhe fez e ainda faz.
O estudo dabiografia humana nos propõe uma forma de pesquisar e investigar a vida a partir de ciclos de 7 anos, os setênios. Cada Ser Humano tem sua vida única, sua experiência intransferível e pode ser o protagonista de seu caminho de vida. No entanto, esse caminho também tem traços que são comuns a todos nós. O que chamamos de um caminho arquetípico e nos apresenta um padrão ou um conjunto de desafios e oportunidades aos quais todos estamos sujeitos a enfrentar. O que muda é a maneira como decidimos enfrentá-los. A cada ciclo de 7 anos, as leis da biografia humana nos apresentam um cenário e ferramentas para nosso desenvolvimento naquele período. E com isso, podemos perceber marcos importantes que podem mudar o rumo de nossas vidas. Se estivermos atentos a esses marcos, nos tornamos cada vez mais os roteiristas de nossas histórias.
Satish Kumar é um grande roteirista de sua própria história, que foge do trivial.
Nascido em 9 de Agosto de 1936, no Rajastão na Índia e filho de uma mãe amante da Natureza, Satish cresceu inspirado por essa força da vida, a grandeza da Natureza e nossa relação intrínseca com ela. Essa combinação cultural de local de nascimento, com a figura inspiradora da mãe trouxe um fio condutor para a vida de Satish. Logo na primeira infância, o pai de Satish falece e isso o faz ter questionamentos sobre a morte.
Aos 9 anos, Satish se torna monge jainista (o Jainismo é uma das religiões mais antigas da Índia), com o propósito de descobrir uma forma de compreender e evitar a morte. Essa experiência é bastante simbólica já que acontece justamente no período chamado de Rubicão, quando a criança por volta dos 9 anos, sofre sua primeira crise existencial, passa a se perceber como um Ser finito e separado dos outros e portanto, começa a se fazer as perguntas existenciais que a acompanha durante toda a vida.
Aos 18 anos na biografia, todo jovem atravessa o primeiro nodo lunar e o impulso que traz ao nascer, fica mais claro. É uma oportunidade de se escolher como se quer seguir na vida, o que quer realizar. No caso de Satish, o questionamento do nodo lunar é representado por sua ruptura com a vida monástica e sua decisão por se aproximar dos ensinamentos de Mahatma Gandhi e a luta não violenta.
“Violência surge a partir do medo. E a paz, surge a partir da confiança”
Com essa máxima, aos 26 anos em 1962, Satish Kumar sai em uma peregrinação que dura 2 anos e meio com o objetivo de passar pelas principais capitais protagonistas da ameaça nuclear, levando uma mensagem de paz. Nessa viagem, Kumar exercita a confiança e as “armas” da não violência em seu nível máximo, já que sai sem nada de dinheiro, na esperança do apoio e suporte das pessoas que encontraria no caminho.
A partir dessa peregrinação, Satish vai dar forma ao seu ativismo dali pra frente. E é interessante notar que essa viagem tão importante de sua vida, coincide com o fim de mais um setênio, próximo dos 28 anos, em que geralmente, nos questionamos sobre nossos talentos, nossa contribuição pro mundo e começamos a lapidar nosso servir.
Em 1971, aos 35 anos e em mais um início de setênio, Satish conhece sua esposa June e se muda definitivamente para a Inglaterra. Mesmo tendo nascido na Índia, é no Ocidente e principalmente na Inglaterra que Satish encontra seu lugar no mundo para realizar sua tarefa cármica e espiritual. Vivendo na Inglaterra por mais de 50 anos, Satish diz que aprendeu sobre o paradigma ocidental materialista e cartesiano, que nos separa uns dos outros e da Natureza. E sua luta e ação é para que aprendamos a vivenciar outro paradigma que é da união, conexão e amor. Satish é portanto, um grande mensageiro do Oriente para o Ocidente.
Satish tem sua própria definição do que é o amor “Amor é a aceitação daquilo que é. Daquilo que o outro é, sem julgamentos. E também daquilo que sou. Assim como sou, sou suficiente”. Mas junto de sua própria visão, Satish sugere que cada um de nós, a partir de sua vivência e perspectiva, elabore a sua própria definição do que é o amor. E nos provoca: “Eu ajo a partir do amor e deixo nas mãos no Universo o resultado!”.
Satish sempre foi motivado pela ação, pela prática e diz que sempre se viu como um ativista e quer ser até seu último dia aqui na Terra. Seu trabalho inspira milhares de pessoas e tem suas sementes plantadas de diversas maneiras. Uma delas a Escola Schumacher de estudos ecológicos, criada na Inglaterra, que promove uma educação transformadora para uma vida sustentável. Incrível pensar que, uma semente de amor à Natureza plantada no coração do pequeno Satish por sua mãe, tenha hoje, tanto impacto na vida de diferentes gerações ao redor do mundo todo.
A história de vida e do ativismo de Satish Kumar é impressionante e inspiradora. A plataforma de streaming Aquarius disponibiliza em seu catálogo o documentário Teaching Nature e se prepara para a estreia exclusiva do documentário biográfico Amor Radical sobre a vida e trabalho de Satish Kumar, que acontece no segundo semestre de 2024.
Através de sua biografia, Satish nos convida a abraçar o paradigma do amor e da mudança, através de pequenas ações individuais e nos provoca a viver a partir da célebre frase de Mahatma Gandhi “Seja a mudança que você quer ver no mundo.”.
Debora Garcia é produtora de conteúdo, terapeuta biográfica em formação e co-criadora do Mercúrio Antroposofia, uma plataforma de conteúdo e conhecimento para apoiar processos de transformação individuais e coletivos, inspirados na Antroposofia e na biografia humana. Saiba mais sobre autodesenvolvimento no instagram da plataforma.e no podcast.
Parabens Debora!!
Super interessante, ótimo texto!
Parabéns pelo trabalho,nos trazendo conhecimento e inspiração.Ótimo texto.Parabéns Débóra